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As papas infantis, ou “papinhas de bebé” são, ainda, aquele alimento que vem logo à cabeça quando se fala de alimentação complementar ou alimentação infantil.

Este artigo foi escrito pela Marta Gorgulho, nutricionista materno-infantil em formação, do perfil @nutri.a.maternidade

A invenção da farinha láctea, presente em Portugal desde os anos 30 como “o alimento ideal das crianças”, salvou a vida de milhares de crianças que não podiam beber leite materno e, através desta invenção, nasceram também as papas infantis! Muitos de nós, agora adultos, lembramos o sabor das papas Cerelac e Nestum como os sabores da nossa infância.


As papas infantis podem ser lácteas, quando têm leite incorporado, sendo preparadas apenas com água, ou não lácteas (sem leite incorporado), preparadas com leite materno, fórmula infantil, ou mais tarde, leite de vaca. Estas papas, que têm na sua base cereais, são fonte de hidratos de carbono, proteína vegetal e, sobretudo, vitaminas e minerais.

Serão as papas assim tão indispensáveis nesta fase de vida?

Vistas como um dos alimentos ideais na infância, serão as papas assim tão indispensáveis nesta fase de vida? A verdade é que todo o marketing e comunicação das marcas para este produto ajudou a cimentar a ideia desta necessidade, enquanto a tecnologia alimentar, e os profissionais que estudam e trabalham para melhorar a qualidade nutricional destes produtos, conseguiram tornar a “papinha de bebé” num alimento adequado nutricionalmente, especialmente do ponto de vista de micronutrientes (vitaminas e minerais), por serem enriquecidas.


Estes produtos, inicialmente bastante açucarados, têm vindo a ser melhorados ao longo do tempo, também pela exigência do consumidor. Hoje em dia encontramos no mercado várias opções adequadas a partir dos 6 meses. São inegavelmente úteis em alguns aspetos, como a sua praticabilidade, a rapidez com que são preparadas, o facto de garantirem segurança alimentar (se manipuladas correctamente) e a sua densidade nutricional.

No entanto, é importante saber escolher qual a papa a oferecer, pois algumas ainda estão longe de ser consideradas adequadas para esta fase de vida. Devemos prestar atenção à informação nutricional no rótulo, ver se a lista de ingredientes é adequada e garantir que estas papas não têm adição de açúcar ou sal.

Papas infantis vs alimentos naturais

Para responder à pergunta “serão as papas infantis essenciais na alimentação infantil?”, vamos analisar a composição nutricional de uma papa disponível no mercado e tentar perceber onde podemos ir buscar os nutrientes que ela oferece. Vamo-nos focar nos micronutrientes, por ser essa a especial vantagem das papas industrializadas – a sua fortificação.

A papa escolhida foi a Cerelac Multicereais da Nestlé (indicada a partir dos 6 meses, para preparar com leite) – por ser idêntica à clássica papa Cerelac que todos conhecemos, mas sem adição de açúcar e não ser láctea.

Primeiro de tudo, devemos sempre olhar o rótulo (regra de ouro quando escolhemos produtos industrializados):

papas infantis - cerelac multicereais

Ao olharmos para a declaração nutricional em micronutrientes presente no rótulo podemos ver que a papa tem um aporte interessante, mas a percentagem apresentada para os valores de referência de vitaminas e minerais (a quantidade destes micronutrientes que deve ser ingerida diariamente para nesta faixa etária) está calculada para 100g de papa (sem adição de leite materno ou fórmula infantil). Ou seja, para alcançar essas percentagens são necessárias 4 doses de papa (100g) numa só vez ou comer esta papa 4 vezes por dia – 1 dose (25g) por refeição.

Ou então, 25g de papa + 150 ml de leite de transição (neste caso, o NAN 2). Para uma correta percepção da percentagem do valor de referência de micronutrientes que esta papa oferece deve ser considerada a quantidade oferecida ao bebé.

Alimentos por micronutriente

No quadro abaixo estão representados alguns exemplos de alimentos e a sua quantidade (g) necessária para atingir o mesmo valor do respectivo micronutriente fornecido pela papa Cerelac Multicereais em 25g. Não foram contabilizados os valores de leite materno ou fórmula infantil para diluir a papa, pois, se fazem parte da alimentação da criança, irão fornecer os nutrientes com ou sem a papa.

Ao observarmos este quadro facilmente percebemos que os micronutrientes desta papa podem ser ingeridos de tantas outras fontes alimentares, umas em menor, outras em maior quantidade. O desafio em atingir estes valores através de alimentos pode estar aí – no volume da refeição. Um dos grandes benefícios da papa é este, fornecer esta quantidade de micronutrientes em apenas uma refeição e pouco volume, através das calorias apropriadas.

No entanto, alguns dos micronutrientes em questão são bastante fáceis de conseguir através de vários alimentos em quantidade adequadas, e é sim possível atingir todos eles através de uma alimentação diversificada, mesmo que seja mais difícil alcançar alguns (como a vitamina D – que obtemos a partir da exposição solar e cuja suplementação deverá ser feita durante o primeiro ano de vida) e seja preciso ter especial atenção com outros (como o ferro).

Para além disso, uma alimentação saudável pressupõe que esta será completa, variada e equilibrada. Sendo por isso importante começar desde cedo a oferecer uma variedade de alimentos diferentes aos mais pequeninos. Esta exposição a diferentes sabores, cores, texturas e cheiros, que fomenta uma boa aceitação da variedade alimentar mais tarde, é algo que as papas não oferecem, especialmente a nível de consistência. Mesmo que se varie na papa e no sabor, uma papa terá sempre uma consistência pastosa/cremosa.


É importante compreender que é preciso ter conhecimento, ou procurar aprender um pouco sobre este tema, para que os pratos que preparamos em casa sejam adequados, e essa é uma das razões pelas quais alguns profissionais de saúde continuam a defender o uso destas papas, em detrimento de papas caseiras.

Vamos sair da tabela e pensar de forma prática – como é que isto se traduz em refeições?

Aqui no blog estão disponíveis algumas receitas que fornecem estes micronutrientes nas mesmas, ou em maiores estas quantidades por refeição!

Uma das minhas preferidas é a receita dos croquetes de pescada e batata doce acompanhados com arroz de feijão. Numa refeição, pode superar todas as quantidades de micronutrientes que a papa fornece em 25g, com excepção da vitamina D (fornece 50% do valor da papa).

Não podia deixar de mencionar o fígado de galinha, aquele alimento que nos faz torcer o nariz, mas que tem bastante densidade nutricional. Bastam 41g de fígado de galinha (por exemplo, em patê) para fornecer a mesma quantidade da dose encontrada nesta papa em vitamina B1, e maior quantidade em vitamina A, PP, B6, B9 Ferro e zinco. Aliás, por curiosidade, sabia que as primeiras comidas industrializadas para bebé eram mesmo feitas de fígado? Pois é!


Também em sopas é possível ter um excelente aporte de micronutrientes! Para que uma sopa seja uma refeição mais completa é importante que seja composta com proteína animal ou vegetal, ou ambos, como a sopa de grão e frango! Também esta receita fornece todos os micronutrientes presentes na papa, com a excepção da vitamina D.

É importante considerar que a quantidade de alimentos utilizado e, no caso da sopa, a sua diluição, irão determinar a sua qualidade nutricional. Sopas mais liquidas serão menos nutricionalmente densas que sopas em consistência pastosa.

A escolha é da família

Oferecer papas infantis ou não é uma escolha pessoal, ou uma indicação do nutricionista ou médico que o acompanha. Não devemos desvalorizar o uso de papas enquanto escolha alimentar de outra família, se não for a nossa.

Pois para algumas famílias podem ajudar as crianças a tingir as suas necessidades nutricionais, enquanto para outras famílias serão dispensáveis! Se for a sua vontade, saiba que e possível alcançar os níveis de micronutrientes necessários nas diferentes fases de crescimento sem recorrer a este tipo de alimento, ou sem que as papas sejam o centro da alimentação do seu filho.

Aviso

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