Quem tem uma criança em casa (a partir dos 2 anos mais ou menos) sabe que elas não gostam de ficar na mesa de jantar muito tempo. Ou pelo menos não ficam por opção.
Cinco minutos parecem ser suficientes para uma criança comer alguns pedaços de comida e já está. E quando o jantar é pacífico é um bom sinal. Muitos vezes a criança rejeita toda a refeição, faz birra, chora.
Mas então quando isto acontece, devemos ou não obrigar a criança a ficar na mesa enquanto a família está a comer? Deixo em baixo uma reflexão.
O que é a alimentação responsiva (como vem nos guias da OMS e Academia Americana de Pediatria)
Um mundo para explorar
Há dias dei este exemplo a uma seguidora muito querida com quem conversava:
Imaginem que estão num Safari em África e pararam para almoçar. As girafas, que vocês tanto aguardaram, apareceram. E vocês ouvem que só vai ser possível vê-las nos próximos 5 minutos. Vocês sairiam da mesa para ver as girafas ou ficariam a comer até ao fim porque só se sai da mesa quando não houver comida no prato?
Reparem como as crianças exploram o mundo à sua volta. Tudo é novidade, tudo é motivo de exploração, tudo é divertido. Aliás, já experimentaram guardar um dos brinquedos do vosso filho e introduzi-lo novamente passado algum tempo?
Já para um adulto, que não vê essa magia no dia-a-dia, que se farta de trabalhar, o jantar é um momento de sentar e relaxar. Beber um vinho, conversar com a/o companheira/o. Vemos as refeições de forma muito diferente delas!
Ficar à mesa: sim ou não?
Óbvio que se devem criar bons hábitos nas crianças. Isso passa logo por comer em família desde o início da alimentação complementar.
Mas forçar uma criança a ficar na mesa cria resistência. E resistência não é bom. A criança fica contrariada, chateada. Estar à mesa passa a ser uma luta. A criança começa a criar associações negativas com as refeições e a comida. Será isso melhor do que não ter a criança na mesa ao fim de 5 minutos? Não sei.
Do outro lado temos a situação em que a criança não é forçada a ficar à mesa, mas é-lhe oferecido um ecrã para que coma ou algum tipo de “suborno” (“se comeres tudo, podes comer o gelado ou podes ver TV”).
Não estou a falar de situações pontuais. Como já partilhei muitas vezes nas nossas redes sociais, a minha filha às vezes come a ver TV. Estou sim a falar da rotina diária ser assim. A criança neste caso fica à mesa, come tudo, mas não está a prestar atenção ao que está a fazer. Não está consciente do que está a comer. Não vai provavelmente notar os sinais de saciedade do seu corpo porque está distraída e pode muito bem comer mais do que devia.
Sabem, não é linear, como em tudo na maternidade. Eu não julgo as decisões dos pais, porque acredito que cada realidade é única e acredito também que os pais têm as melhores intenções quando tomam determinada decisão, ou seja fizeram o que achavam melhor pelos seus filhos naquele momento.
A nossa experiência com as refeições
Agora um pouco da nossa experiência e do que fazemos cá em casa (não é necessariamente o que está certo, mas pode ser que ajude):
Comemos em família desde os 6 meses. Até aos 15-18 meses ela dormia muito cedo então muitas vezes não conseguíamos conciliar o jantar dela com o do pai. Então eu alternava entre comer com ela e comer com o pai. As outras refeições eram sempre em família.
Deixamos a nossa filha livre para sair da mesa. À medida que ela foi crescendo e ganhando entendimento, começamos a perguntar se ela já está mesmo satisfeita, se tem a certeza que não quer comer mais um pouco, ou se não quer ficar um pouco mais a fazer-nos companhia.
Tentamos interagir com ela. Conversar, perguntar coisas (nem que sejam aleatórias) sobre o dia, sobre algo que ela viu. Nem sempre é fácil porque também nós estamos cansados, também nós queremos ver as notícias que não conseguimos ver ao longo do dia, também nós queremos conversar um com o outro.
Em situações que precisamos que ela fique à mesa, como uma ida a um restaurante, levamos brinquedos, lápis e papel ou livros para entrete-la. Isto é uma opção válida até para usar em casa também.
Não enchemos o prato. Encher o prato de um bebé ou criança gera expectativas erradas nos pais. Como o prato não fica vazio, há sempre a sensação de que a criança não comeu o suficiente. E o mais provável é que ela tenha comido exatamente o que precisa. Se ela quiser mais, servimos mais. E garanto que quando ela gosta da comida ela repete uma, duas, três vezes.
Servimos sopa, segundo prato e fruta (quando há) ao mesmo tempo. Isso dá-lhe escolha e não cria em nós a tentação de lhe dizer que para comer a fruta tem de acabar o prato.
Não oferecemos alternativas. Não comeu o almoço? Haverá lanche depois. Posso servir o lanche um pouco mais cedo e torná-lo mais nutritivo. Mas a refeição é igual para todos.
Ecrãs são a exceção e não a regra. E preferimos sempre a TV em relação à telemóveis ou tablets.
Por fim: Recentemente comecei a envolvê-la algumas vezes na escolha da refeição (antes de começar a preparar): pergunto se quer massa ou arroz, se quer tomate ou beterraba na salada, e por aí vai.
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