Nesta publicação falamos sobre seletividade alimentar: O que é e como podemos lidar com ela de forma a evitar que se agrave.
Esta publicação é meramente informativa e é pensada na maioria dos bebés. Há patologias que levam a quadros de seletividade alimentar mais graves e esses casos precisam ser acompanhados por profissionais especializados. Um bebé que recusa por completo alimentos sólidos, que não toca nos alimentos ou que só come comida passada por exemplo, precisa de ajuda de um terapeuta da fala, terapeuta ocupacional ou equipa multidisciplinar. Crianças que rejeitam grupos inteiros de alimentos também precisam de acompanhamento profissional. Seletividade/rejeição temporária também pode estar ligada a doença ou dentes a nascer. Se desconfia que o seu bebé não está a comer porque está doente, consulte a/o pediatra.
É muito frustrante – desesperante até! – o nosso filho não comer, ou deixar de comer de repente. Mas é muito provável que o seu bebé, que comia tão bem, eventualmente comece a recusar um ou mais alimentos. E normalmente acontece de um dia para o outro. Pode ser um alimento ou vários que comia antes e agora não come ou podem até nem querer comer em algumas refeições.
A seletividade alimentar pode se manifestar de diferentes maneiras e em várias idades. Alguns dos traços comportamentais comuns que têm sido usados para caracterizar a seletividade alimentar incluem: evitar a ingestão de certos alimentos ou grupos de alimentos, sensibilidade sensorial (evitar um alimento com base em suas propriedades sensoriais, ou exigir o preparação ou apresentação das refeições de uma forma muito particular) e falta de interesse em comer (comer apenas pequenas quantidades de comida, ter pouco apetite, comer devagar). Um estudo recente descobriu que crianças exigentes comem consistentemente menos vegetais do que seus colegas de mente mais aberta.
Todas, ou quase todas, as crianças vão passar por algum tipo de selectividade alimentar, que começa por volta dos 2 anos. As crianças começam a desenvolver mais autonomia e isso faz com que tenham sentimentos fortes sobre o que está no seu prato.
A boa notícia? Estudos não encontraram evidências consistentes de que a selectividade alimentar afeta o crescimento da criança a longo prazo. Isto porque uma criança com comida disponível, não vai morrer de fome! Nós, enquanto pais, só temos de garantir que eles têm acesso a comida saudável, variada e nutritiva.
Nunca deixar de oferecer um alimento só porque a criança deixou de o comer
Quando os bebés ou crianças deixam de comer consistentemente algo, os pais tendem a deixar de oferecer. Se os pais deixam de oferecer, a criança deixar de estar familiarizada com o alimento e cria-se o cenário perfeito para essa criança não querer comer mais esse alimento.
Então é importante continuar a oferecer o alimento para o bebé continuar familiarizado com ele mas sem nunca insistir ou forçar! O bebé deixou de comer brócolos? Se hoje há brócolos ao jantar ponha um pouco de brócolos no prato, não encha o prato de brócolos! Não insista para que coma, os brócolos estão lá e isso é importante.
Também não precisamos chamar a atenção ao alimento que a criança não gosta. Frases tipo “Já viste espinafres no teu prato. São deliciosos não são? O papa adora” ou “Hmmm olha a mamã a comer espinafres, tão bom” só chamam a atenção para o alimento que a criança não gosta aumentando a rejeição.
Uma dica é oferecer um alimento que a criança não está a comer em quantidade pequena e juntamente com alimentos “seguros” (alimentos que ela gosta muito). Quando a criança não gosta de um determinado vegetal é boa ideia oferecer um segundo vegetal ao lado para ela poder ter escolha.
Não forçar a criança a comer
Não só não forçamos, como não oferecemos incentivos, não elogiamos quando come e não usamos a comida como recompensa ou suborno.
O maior problema é pressionar as crianças a comer o que está na frente delas. Estudos relacionaram o controle dos comportamentos durante as refeições, incluindo o incentivo às crianças a comerem mais e o uso da comida como recompensa, a uma alimentação exigente (“picky eating”). Claro, os pais podem pressionar seus filhos porque eles estão a recusar o jantar. Mas a pesquisa sugere um “ciclo vicioso”: as crianças são exigentes com a comida; os pais pedem, bajulam e subornam para comer; as crianças aprendem a odiar refeições.
Na verdade, estudos relacionaram o controle de comportamentos durante as refeições, incluindo incentivos às crianças a comerem e o uso da comida como recompensa, à seletividade alimentar. Ou seja, crianças que são forçadas (direta ou indiretamente) a comer sem vontade tendem a ser mais seletivas.
Subornar uma criança, pode aumentar a ingestão de comida no curto prazo, mas passa uma mensagem completamente errada à criança: “Este alimento deve ser mesmo mau para me estarem a pagar para come-lo”. Ou então se exigimos que coma em troca de sobremesa, colocamos a sobremesa num pedestal – um troféu que é conquistado – e isso definitivamente não deve ser feito.
O bebé ou criança deve comer a mesma comida que toda a família.
Com a preocupação de que a criança tem de se alimentar, acabamos por oferecer uma alternativa à refeição ou mesmo levantar da mesa para fazer algo diferente. O que pode fazer sentido a curto-prazo, a longo prazo pode ser pior. Se a minha filha não come e eu vou e faço uma tosta de queijo para ela comer porque ela adora tosta de queijo, então o mais é que ela não vá querer mesmo os vegetais mais para a frente e vamos ter sempre que fazer algo diferente para ela.
Não se deve fazer comida especial para a criança porque uma criança com acesso a comida e bons hábitos alimentares não vai passar fome! Ela vai comer quando tiver fome.
Então, se a criança está a rejeitar espinafres mas o jantar é esparregado, pomos um bocadinho de esparregado no prato dela, junto com o resto da comida. Podemos sim incluir o esparregado numa quantidade pequena no prato para não ser assustador para a criança, mas ele deve estar presente no prato.
Oferecemos variedade (na cor, na textura, nos sabores)
Os bebés são naturalmente atraídos por sabores doces (como leite materno) e salgados, diz Pauline Emmett, uma cientista de nutrição da Universidade de Bristol, que acrescenta que “eles não gostam tanto de sabores ácidos e amargos”, que podem surgir em frutas e vegetais. Os vegetais verdes são especialmente propensos a ter sabor amargo, e é por isso que a cenoura costuma ser mais fácil de vender do que a couve.
Nós nascemos com preferência pelo sabor doce. E não gostamos assim tanto dos sabores ácidos e amargos. Se o bebé for exposto sempre às mesmas coisas, mesmos sabores, mesmas texturas (exemplos: batata, abóbora, batata doce, banana, maçã, cenoura, pêra), vai ser mais difícil ele aceitar novos sabores mais tarde.
A cenoura é doce, mas os citrinos são ácidos, os verdes escuros são amargos por isso são mais difíceis de serem aceites. Oferecer variedade desde o início da introdução alimentar é a chave! Mas não é variar na sopa porque como os vegetais estão todos triturados juntos o bebé não consegue diferenciar os sabores. É preciso variar nos alimentos que apresentamos individualmente no prato. Oferecer um prato sempre cheio de cor é uma forma de garantir que isso acontece.
Incluímos no prato um alimento de segurança
Isto é válido para crianças e não tanto bebés. Mas quando a criança é muito selectiva e já rejeita alimentos há muito tempo é importante entender que não conseguimos mudar os hábitos de um dia para a outro.
Então começamos a introduzir novos alimentos, ou opções mais saudáveis, de forma lenta e sempre com um ou dois alimentos de segurança no prato. Isto ajuda a que a criança não se feche completamente e recuse toda a refeição.
Por fim, lembre-se que a boa relação com os alimentos vai além da mesa
Leve o bebé ou criança ao supermercado descrever os vegetais e as frutas e peça ajuda para escolhe-los. Peça ajuda a arruma-los na despensa.
Traga a criança para a cozinha e cozinhe com ela. A criança pode pegar os ingredientes, cortar, contar, medir, misturar. Trazer a criança para a cozinha faz com que ela conheça os alimentos, se interesse mais por eles. Com uma torre de aprendizagem consegue trazer o bebé para cozinhar consigo logo a partir dos 15/18 meses. Falamos sobre torres de aprendizagem neste artigo.
Fontes:
Ziyi Li, et al. Perceptions of food intake and weight status among parents of picky eating infants and toddlers in China: A cross-sectional study. Appetite. 2017 Jan 1;108:456-463.
Aviso
O conteúdo oferecido no blog comidadebebe.pt é puramente para fins informativos. O comidadebebe.pt não se dedica a fornecer aconselhamento profissional, seja médico ou outro, para usuários individuais ou para os seus filhos ou famílias. Nenhum conteúdo deste site, independentemente da data, deve ser usado como um substituto do conselho de um médico ou profissional de saúde, nutricionista ou especialista em alimentação e alimentação pediátrica. Ao acessar o conteúdo em comidadebebe.pt, reconhece e concorda que aceita a responsabilidade pela saúde e bem-estar de seu filho ou familiar. Em troca de fornecer-lhe uma série de informações sobre alimentação e nutrição infantil, introdução da alimentação complementar e receitas, você renuncia a quaisquer reclamações que você ou seu filho possam ter como resultado da utilização do conteúdo que está no comidadebebe.pt.