Este artigo é sobre cocó de bebé. Especificamente sobre as mudanças no cocó quando a/o bebé começa a introdução da alimentação complementar.
E por isso convidei a Dra. Alexandra Luz (podem segui-la no Instagram em @alexandraluzpediatra) para responder a algumas das vossas dúvidas.
Já percorremos um longo caminho desde o tempo em que se considerava o tubo digestivo como simplesmente isso, um tubo, por onde a comida passava de uma forma mecânica para que fossem retirados os nutrientes necessários para a nossa sobrevivência, e tudo o excedente fosse desperdiçado. Hoje em dia sabe-se melhor – o tubo digestivo é um verdadeiro organismo vivo, cuja saúde tem impacto marcado no bem-estar da criança, do adolescente e do adulto. Por isso, parece que temos de cuidar bem dos nossos intestinos, meus caros.
Ora, mas vamos então a responder a algumas das dúvidas que os pais colocam mais frequentemente nesta altura em que estão a fazer a transição para a oferta de alimentos sólidos.
Comida de Bebé (CDB): O que é que vai acontecer ao cocó do meu bebé quando ele começar a comer outro tipo de alimentos?
Dra Alexandra Luz (AL): Prepare-se para um alegre mundo novo! Um mundo de novas cores, consistências, cheiros, e frequências! Na realidade, é imprevisível para alguém poder dizer se o bebé vai fazer mais cocó, menos cocó… porque depende de cada bebé, das características da alimentação, e do próprio intestino. Certo é que raramente fica igual. Geralmente torna-se mais moldado (o cocó da alimentação exclusivamente láctea tem tendência a ser mais líquido), e pode assumir uma coloração mais acastanhada, ao invés do amarelo “mostarda” e por vezes “esverdeado” característicos do cocó do aleitamento.
CDB: É verdade que o bebé tem tendência a ficar obstipado com a introdução da alimentação complementar?
AL: Não, isto não é necessariamente assim. Tal como eu disse no ponto anterior, tudo pode acontecer. Há bebés que faziam cocó com menos frequência e passam a fazer com mais frequência, e o inverso também acontece. O que se sabe é que, contudo, esta altura da introdução da alimentação complementar é uma altura de risco para a obstipação, pois é relativamente fácil que a oferta de alimentos ao bebé forneça um conteúdo insuficiente de fibra, e de água, o que combinado leva a um risco aumentado de obstipação.
CDB: O meu bebé fazia cocó várias vezes por dia e agora com a introdução da alimentação complementar passou a fazer de dois em dois dias. Isso é obstipação?
AL: Não é necessariamente assim. Temos muita tendência a pensar que a obstipação tem apenas a ver com a frequência de vezes com que o bebé faz cocó, e é bem mais do que isso. Um bebé pode fazer cocó de dois em dois dias, e quando faz o cocó ser pastoso, fácil e sem esforço e isso não é obstipação. Por outro lado, um outro bebé pode fazer cocó todos os dias, e este cocó ser duro, rijo (por vezes até descrito como “em bolinhas”), e com nítido esforço, e isso é obstipação. Portanto, mais do que a frequência, temos é de ter atenção às características do cocó e à noção de dor que possa haver, ou grande esforço, com o fazer cocó. Esses sim são sinais de alarme, e se mantidos durante algum tempo, podem levar ao desenvolvimento de feridas na região do ânus, e de comportamentos de retenção (isto quer dizer que o bebé, por sentir que lhe dói, retrai-se ao fazer cocó e retém o cocó, fazendo com que ele se torne ainda mais duro), que depois são mais difíceis de tratar.
CDB: Quando comecei a alimentação complementar, notei que por vezes surgem “pedaços” de alimentos quase inteiros no cocó. É normal?
AL: É habitual sim, que possam surgir alguns pedaços menos digeridos no cocó do bebé que já faz uma alimentação sólida. A sua presença tem a ver com o tempo do trânsito intestinal, que é mais acelerado em algumas crianças e principalmente em crianças mais pequenas, o que faz com que algumas partes de alimentos mais difíceis de digerir não o sejam a 100%. Se o bebé continua a crescer bem, e a presença destes “pedaços” é variável, à partida terá a ver com isso.
CDB: Ouvi dizer que há alimentos que fazem com que o bebé tenha mais tendência a ser obstipado do que outros. É verdade?
AL: Na realidade, o que há é alimentos que são mais ricos em fibra, e como tal têm tendência a favorecer o trânsito intestinal, e outros que não são assim tão ricos. Há pais que referem que a cenoura prende o intestino do bebé (mas a cenoura até é relativamente rica em fibra), ou a banana. São exemplos de alimentos ricos em fibra os brócolos, as ervilhas, a alface, a batata doce, as lentilhas, espinafre, couve flor, a pêra, a maçã com casca, o abacate, a nectarina, a ameixa, o pêssego e a papaia… Seja como for, devemos ter o cuidado de evitar restrições alimentares múltiplas, pois podem ser prejudiciais em bebés e crianças em crescimento. E por outro lado, não nos serve muito aumentar o teor em fibra da alimentação, se não houver um consumo adequado de água, pois arriscamo-nos a apenas aumentar o desconforto da criança, que fica com mais gases.
CDB: Tenho muita dificuldade em dar água ao meu bebé. Como posso fazer para ele beber mais água?
AL: Este é um problema com que muitos pais se deparam. Não podemos simplesmente enfiar água pela boca do bebé abaixo, não é? Primeiro, temos de nos lembrar que o nosso papel é oferecer, e o papel do bebé é regular o que bebe. Mas se oferecermos com mais frequência, e respeitarmos as preferências da criança em relação à sua própria autonomia, pode ser que tenhamos mais sucesso. Há bebés que preferem beber água à colher, outros fazem-no no biberão, outros bebés bebem água em copo aberto.
Outras estratégias de aumentar o teor de água na alimentação são: privilegiar frutas e legumes com elevado teor de água (melão, melancia, meloa, pepino, alface) ou, nos purés e/ou sopa, aumentar o teor de água com que os preparamos. Uma tentação grande é oferecer chás, ou sumos de fruta natural, mas os chás e sumos não estão recomendados em crianças pequenas, por isso não devem ser uma opção.
Estas são algumas das perguntas mais frequentes que os pais me fazem nesta altura tão sujeita a expectativas que é a introdução da alimentação complementar. Para mim, é mais uma altura fantástica, em que vemos o bebé a desenvolver uma relação positiva com a comida, a explorar, muito para além da satisfação das suas necessidades básicas nutricionais. E já sabe, se tiver mais alguma pergunta, pergunte à pediatra! Estamos cá para ajudar! Boas comidas!!!!!
Alexandra Luz, Pediatra
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